
No exagero dizer que os estdios de futebol so a segunda casa do reprter fotogrfico Jorge Gontijo. De seus 67 anos, nada menos do que 42 so dedicados ao jornalEstado de Minas, sendo 100% do tempo no esporte – com incurses espordicas por outras editorias. Mas essa ligao comeou bem antes: no nascimento do Mineiro, quando, ento com 14 anos, Jorge engatinhava no mundo das lentes.
Aprendiz de fotografia, ele acompanhou as obras do Gigante da Pampulha ao lado de Dario Carrera, fotgrafo oficial da construo. Da para as cinco Copas do Mundo que entrariam em seu currculo, todas em coberturas para oEM, foi um salto que nem mesmo ele podia imaginar.
Em 1 de julho de 1975, Jorge entrou na redao do EM pela primeira vez. Nas mais de quatro dcadas que se seguiram, viu de quase tudo na rea esportiva. “Fiz Mundial de futebol, de Clubes, de voo livre, de natao, de vlei, de basquete, Frmula 1, Libertadores, Conmebol, Supercopa, cinco Copas do Mundo...” enumera.
S faltaram Pan-Americano e Olimpada. “Hoje, sou o fotgrafo mineiro que tem mais Copas”, diz, orgulhoso. A histria das competies que cobriu pode ser contada tambm a partir da grande (r)evoluo tecnolgica que vivenciou. “No incio, transmitir foto era um drama”, afirma. O processo exigia percia do incio ao fim. “Hoje, h o Photoshop (programa de edio de imagens), que at foco corrige. Antes, saa ou no saa. E s depois de revelado que voc ficava sabendo.” Na Copa de 1986, no Mxico, foi assim. E aqui Jorge faz um parntese. “Fui o primeiro fotgrafo a viajar para cobrir uma Copa para um jornal local.
E oEMfoi o primeiro jornal do estado a levar equipe completa, com reprter e fotgrafo, para um Mundial.” Nas coberturas no exterior naquela poca, no bastava o talento do fotgrafo. Era necessrio tambm sorte. “Fazamos 10, 15 minutos de jogo, dependendo do fuso horrio, e amos para o hotel revelar as fotos. Crivamos um laboratrio no quarto. O sistema era de telefoto, a imagem vinha pelos impulsos do telefone. S em preto e branco. Sempre explicvamos telefonista que ia dar o sinal, mas que no era para ela atender. S que de vez em quando ela ouvia o barulho da ligao e ficava l, dizendo ‘al, al’. Isso borrava a foto toda e a gente tinha de recomear.
Mudana na tecnologia 3u1mq
Cada foto levava oito minutos. Se ssemos trs imagens era uma glria! Hoje, no intervalo de uma partida j tem 50, 60 fotos na redao.” Na Copa da Itlia, em 1990, ele se deparou com algumas facilidades: “Encontramos um centro de imprensa mais bem estruturado, com apoio dos patrocinadores. A Copa comeou a ficar mais organizada para a imprensa. A foto era revelada e transmitida do estdio, j estava mudando para cores”. Apesar de no ter estado na cobertura em 1994 – o jornal enviou o reprter fotogrfico Alberto Escalda –, o Mundial dos EUA merece meno na biografia de Jorge Gontijo.Como o Brasil foi campeo (tetra), ele ou a atribuir os fracassos anteriores sua presena in loco. “Fiquei com isso na cabea... A veio a da Frana, em 1998, eu estava l de novo e foi aquele desastre! O problema com o Ronaldo, o show da Frana com o Zidane e o Henry, o Roberto Carlos arrumando meio... E eu achando que o problema era comigo, que eu era o p-frio”, conta. A jornada brasileira em gramados ses reforou o que ele define como “sndrome da Copa”. Mas a parte profissional foi bem mais tranquila, graas internet. “Facilitou demais, at porque na nossa equipe estava o Zeca (Geraldo Teixeira da Costa Neto), que entendia muito da rea e hoje nosso diretor.”
A redeno e o fim da sndrome vieram em 2002, na Copa dividida entre Coreia do Sul e Japo. “Fiz a foto mais feliz da minha vida, a que me deu mais satisfao pessoal e profissional. Aquela do Cafu, com a camisa escrito Jardim Irene, erguendo a taa”. Com a tecnologia a favor, foi a unio perfeita entre trabalho e prazer: “Ali j estava tudo dominado, no intervalo mesmo mandava as fotos, no havia limite.”
O truque da limusine v3a3i
Quatro anos depois, a despedida, na Alemanha. “Estava achando que seria a ltima mesmo, j estava meio cansado, era a quinta... E o legal que foi um outro tipo de cobertura, com material especial, exclusivo, personagens inusitados, no o factual, o dia a dia dos treinos da Seleo. Para isso havia 60, 80 fotgrafos, 10 de cada agncia de notcias, era muito difcil pegar algo diferente, s se tivesse muita sorte mesmo”, destaca. No foram poucos os casos curiosos que Jorge colecionou.
Um deles foi a estratgia para entrar na concentrao da Argentina em um condomnio fechado em Roma, em 1990. “Para no ser barrados, alugamos uma limusine. Quando chegamos perto do campo, desci do carro e fiz as fotos do Maradona fazendo embaixadinhas. Logo os seguranas apareceram e nos tiraram de l. Foi a primeira e ltima vez que andei de limusine.” Outra foi a carona que o ex-goleiro Taffarel pegou com a equipe doEM, entre um treino e outro na Granja Comary, em Terespolis: “Voltamos para BH numa folga da Seleo e ele pediu para vir no carro com a gente. Paramos em um posto de gasolina na estrada, para abastecer o carro, lanchar, e as pessoas surpresas por v-lo ali. uma simplicidade que no existe hoje, ainda mais com um jogador de Seleo Brasileira”.
O Megafone 112u5s

Se quiser ouvir um pouco mais da histrias e da trajetria do reprter-fotogrfico Jorge Gontijo no jornalismo esportivo, confira neste episdio de O Megafone, o podcast doEstado de Minas, um papo sobre a histria da imagem nos ltimos 50 anos, contada por quem a clicou. “O que me atraiu foi o mistrio que tinha o laboratrio, eu ficava encabulado com aquilo. Era uma mgica, at parecia uma mgica”.
Lembranas g1u3h
Em muitas dessas jornadas ele esteve ao lado do reprter Jaeci Carvalho, de 58 anos, 27 deEM. Desde 1994, Jaeci esteve em todas as Copas do Mundo e considera a primeira a mais especial: “O Brasil sagrou-se campeo depois de 24 anos e tnhamos uma equipe muito grande, unindoEM,Dirio da TardeeCorreio Braziliense. Fomos comandados pelo saudoso Wagner Seixas, numa cobertura espetacular”, recorda-se. Para ele, as Copas na sia e na frica foram as mais complicadas: “Em 2002, foi a primeira em dois pases-sede e, em 2010, o tcnico Dunga escondia a Seleo e a imprensa teve muita dificuldade para levar ao torcedor as impresses daquele grupo”.A que mais gostou de trabalhar foi a da Alemanha: “Foi a mais legal de cobrir. Facilidade no transporte, pois os alemes liberaram trens para os jornalistas, e o povo nos recebeu muito bem. Infelizmente, o Brasil ficou no meio do caminho”. Em 2014, em casa, uma experincia diferente: “A Copa no Brasil foi muito boa, pois, pela primeira vez, no fiquei grudado na Seleo Brasileira, priorizei meu programa, Alterosa no ataque, falando no s do Brasil, mas de todos os participantes”.
Embora tenha marcado presena em cinco Olimpadas, ele no esconde sua predileo pelas Copas. “Cobrir um Mundial a cereja do bolo na carreira de um jornalista especializado em futebol. Requer pacincia, dedicao, horas e horas sem comer, muitas das vezes dormindo mal, sempre em busca do exclusivo. isso que valoriza a cobertura de um evento dessa grandeza.”