O ATLETICANO VAI AO MARROCOS 6r2u38
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"A proximidade do jogo fez com que o atleticano esquecesse o que leu sobre o Marrocos - que no ite que se grite na rua, se beba em excesso e se mexa com a mulherada" 653222
postado em 18/12/2013 08:40
O atleticano j se encontra plenamente habituado a Marrakesh, sentindo-se em casa como aquela visita que daqui a pouco estar de cueca e chinelo de dedo, abrindo a geladeira sem nenhuma cerimnia.
A cada hora que a, mais e mais representantes dessa etnia de guerreiros peregrinos brotam do asfalto da cidade, escoando desde o aeroporto at a regio da Medina, tomando as avenidas com as suas camisas listradas e os prdios com as suas bandeiras alvinegras. No h um nico hotel, entre as centenas que aqui existem, em que no tremule uma bandeira do Marrocos e outra do nosso Galo. O atleticano sente tanto orgulho, que j caminha torto pelas ruas, de tanto estufar o lado esquerdo do peito.
A proximidade do jogo de hoje fez com que o atleticano esquecesse tudo que leu sobre o Marrocos – um pas que no ite que se grite na rua, que se beba em excesso e que se mexa com a mulherada. Pois j abundam por aqui histrias de porres altura do campeonato, comprovados em fotografias que a princpio levariam priso perptua, seno forca. Abundam tambm as bundas, numa certa Pach que virou espcie de Salomo, tamanha a concentrao de atleticanos dispostos a enfrentar canhes naquele conhecido corpo a corpo.
O mais impressionante, contudo, a transformao dos nibus de city tour em trios eltricos onde se canta, a capela, os singelos cnticos da Galoucura. Os caras pagam para ver a cidade, mas no esto minimamente interessados nesse objetivo. Tratam de subir ao andar superior, abrir suas bandeiras e, como Pavarottis que tivessem encarnado o demnio, gritar seus palavres, suas palavras de ordem e suas odes ao Clube Atltico Mineiro. Aqui embaixo meus olhos se enchem d’gua. L em cima, quem fica parado toma logo um “t ligado”.
Numa tentativa, talvez, de enjaular o verdadeiro bando de loucos, criou-se aqui uma rea com o gratuito, mas controlado, dedicada aos torcedores dos clubes que disputam o Mundial. Funciona como as Fan Fests montadas pela Fifa desde a Copa da Alemanha, em 2006. Em Marrakesh se chama Fun Zone, e mesmo uma zona. No precisa dizer que para cada torcedor do Raja ou do Bayern tem 200 atleticanos gritando na cabea deles.
Um desavisado Joseph Blatter deu uma incerta nessa baguna na manh de ontem. No contava com a disposio da massa, que por pouco no carrega o velho no ombro e joga pra cima. Aos gritos de “Rebaixa o Flu”, o francs tratou de sair sa, com medo de a mesa virar e o caldo entornar.
O Marrocos um pas maravilhoso, onde se pode fazer turismo de alto nvel, confrontando paisagens e culturas diversas. Mas o atleticano no t nem a pra isso. Um deles, vendo Marrakesh do avio, confundiu seus prdios de cor ocre com montes de tijolos mostra: “Veja que favela arrumadinha”. Um outro recusava-se a ar a noite no deserto, um dos eios mais incrveis por estas bandas: “Eu no vim aqui pra ficar tirando leite de dromedria”.
Pois isso mesmo: o atleticano veio aqui pra ser campeo. Veio expurgar suas dcadas de espera, exorcizar de novo seus demnios, porque eles no couberam numa Libertadores s. O atleticano veio aqui honrar o nome de Minas no cenrio esportivo mundial, esculachado pelo arquirrival em duas oportunidades, quando apanhou dos alemes e, no satisfeito, ofereceu a outra face.
O atleticano em Marrakesh um cara que sonha acordado. A cada check-in que ele fez em seu priplo pra chegar at aqui, ele se perguntou se aquilo de fato estava acontecendo. Ao olhar esta cidade ocre e amarela, lembrou-se dos Catanhas e Mexericas, dos Paulos Curys e Afonsos Paulinos, da dcada de 1980, do Elias Kalil, do Tel Santana, do Reinaldo, do Jos de Assis Arago. muita dor acumulada.
O atleticano que chegou vivo at o dia de hoje um sortudo. Logo mais, quando o juiz apitar o incio do jogo contra o Raja Casablanca, ele estar a dois os do alm-paraso – a 180 minutos da transcendncia absoluta, da mgica que pode nos conduzir ao impossvel, ao inimaginvel. Sabe-se l o que vai nos acontecer se levantarmos esse caneco.
Quando o juiz apitar o incio do jogo, a massa enlouquecida, de Marrakesh a Belo Horizonte, deve levantar as mos pro cu e agradecer a sorte de estar viva. E lembrar-se, mais do que tudo: daqui pra frente, no h nada a perder. Nada a perder.
AQUI EM MARRAKESH
Honrando o nome de Minas
O viajante que no goste de dar bandeira de estrangeiro, sob pena de ser arrochado do txi ao copo d’gua, t enrolado aqui. O marroquino j aprendeu: v a camisa listrada e j manda um “Gaaaalo”. No conta com a desconfiana do mineiro e sua incrvel sapincia na arte de se fazer de bobo e sumir na poeira. Quer ver um atleticano comendo hambrguer em Marrakesh, escale um local para lhe puxar pelo brao oferecendo tagine ou cuscuz. Se tem de pagar para tirar foto dos encantadores de cobras da Medina, a gente no olha nem a olho nu.
Obrigado Irmandade
Cheguei crente de que estava tudo certo com minha credencial Fifa. No estava – tinha sido recusada, e ao recusado no se remete sequer um e-mail. Temi pelo maior mico j vivido por este macaco velho. Mas imagine se a Irmandade Atleticana deixaria um devoto na mo! O senhor Guilherme Monken, sem nunca ter me visto, lido ou ouvido falar, me cedeu dois ingressos do melhor setor: “Me d seu telefone, acertamos depois do Natal”. Obrigado, amigo, pela confiana. Eh, Galo...
Pra no dizer que no falei da Flor
Tribunais s existem para fazer a justa interpretao da lei. Para analis-la friamente, podem fechar as portas. O torcedor que se conforma com a nova virada de mesa do Flu, sob o argumento de que “se cumpriu a lei”, deve concordar tambm com a cadeia para aquele que “furta” uma batatinha frita na fila do self-service. Ou com cinco anos em regime fechado de um manifestante que levava gua sanitria e pinho sol, pretendendo fazer desses perigosos elementos um coquetel molotov.
Pra no dizer 2
O Vasco tentou reverter a queda no tapeto. Seu patrocinador, vendo seu filme j suficientemente queimado na barbrie de ville, pulou fora. J o do Flu ficou na moita vendo uma das maiores canalhices da histria recente do futebol. Endossou a virada de mesa (ou se omitiu, v l), visto que , na prtica, a gestora do clube. Se age assim em caso de repercusso internacional, imagine na hora em que s um tratamento complexo (e caro) for capaz de salvar sua vida!
A cada hora que a, mais e mais representantes dessa etnia de guerreiros peregrinos brotam do asfalto da cidade, escoando desde o aeroporto at a regio da Medina, tomando as avenidas com as suas camisas listradas e os prdios com as suas bandeiras alvinegras. No h um nico hotel, entre as centenas que aqui existem, em que no tremule uma bandeira do Marrocos e outra do nosso Galo. O atleticano sente tanto orgulho, que j caminha torto pelas ruas, de tanto estufar o lado esquerdo do peito.
A proximidade do jogo de hoje fez com que o atleticano esquecesse tudo que leu sobre o Marrocos – um pas que no ite que se grite na rua, que se beba em excesso e que se mexa com a mulherada. Pois j abundam por aqui histrias de porres altura do campeonato, comprovados em fotografias que a princpio levariam priso perptua, seno forca. Abundam tambm as bundas, numa certa Pach que virou espcie de Salomo, tamanha a concentrao de atleticanos dispostos a enfrentar canhes naquele conhecido corpo a corpo.
O mais impressionante, contudo, a transformao dos nibus de city tour em trios eltricos onde se canta, a capela, os singelos cnticos da Galoucura. Os caras pagam para ver a cidade, mas no esto minimamente interessados nesse objetivo. Tratam de subir ao andar superior, abrir suas bandeiras e, como Pavarottis que tivessem encarnado o demnio, gritar seus palavres, suas palavras de ordem e suas odes ao Clube Atltico Mineiro. Aqui embaixo meus olhos se enchem d’gua. L em cima, quem fica parado toma logo um “t ligado”.
Numa tentativa, talvez, de enjaular o verdadeiro bando de loucos, criou-se aqui uma rea com o gratuito, mas controlado, dedicada aos torcedores dos clubes que disputam o Mundial. Funciona como as Fan Fests montadas pela Fifa desde a Copa da Alemanha, em 2006. Em Marrakesh se chama Fun Zone, e mesmo uma zona. No precisa dizer que para cada torcedor do Raja ou do Bayern tem 200 atleticanos gritando na cabea deles.
Um desavisado Joseph Blatter deu uma incerta nessa baguna na manh de ontem. No contava com a disposio da massa, que por pouco no carrega o velho no ombro e joga pra cima. Aos gritos de “Rebaixa o Flu”, o francs tratou de sair sa, com medo de a mesa virar e o caldo entornar.
O Marrocos um pas maravilhoso, onde se pode fazer turismo de alto nvel, confrontando paisagens e culturas diversas. Mas o atleticano no t nem a pra isso. Um deles, vendo Marrakesh do avio, confundiu seus prdios de cor ocre com montes de tijolos mostra: “Veja que favela arrumadinha”. Um outro recusava-se a ar a noite no deserto, um dos eios mais incrveis por estas bandas: “Eu no vim aqui pra ficar tirando leite de dromedria”.
Pois isso mesmo: o atleticano veio aqui pra ser campeo. Veio expurgar suas dcadas de espera, exorcizar de novo seus demnios, porque eles no couberam numa Libertadores s. O atleticano veio aqui honrar o nome de Minas no cenrio esportivo mundial, esculachado pelo arquirrival em duas oportunidades, quando apanhou dos alemes e, no satisfeito, ofereceu a outra face.
O atleticano em Marrakesh um cara que sonha acordado. A cada check-in que ele fez em seu priplo pra chegar at aqui, ele se perguntou se aquilo de fato estava acontecendo. Ao olhar esta cidade ocre e amarela, lembrou-se dos Catanhas e Mexericas, dos Paulos Curys e Afonsos Paulinos, da dcada de 1980, do Elias Kalil, do Tel Santana, do Reinaldo, do Jos de Assis Arago. muita dor acumulada.
O atleticano que chegou vivo at o dia de hoje um sortudo. Logo mais, quando o juiz apitar o incio do jogo contra o Raja Casablanca, ele estar a dois os do alm-paraso – a 180 minutos da transcendncia absoluta, da mgica que pode nos conduzir ao impossvel, ao inimaginvel. Sabe-se l o que vai nos acontecer se levantarmos esse caneco.
Quando o juiz apitar o incio do jogo, a massa enlouquecida, de Marrakesh a Belo Horizonte, deve levantar as mos pro cu e agradecer a sorte de estar viva. E lembrar-se, mais do que tudo: daqui pra frente, no h nada a perder. Nada a perder.
AQUI EM MARRAKESH
Honrando o nome de Minas
O viajante que no goste de dar bandeira de estrangeiro, sob pena de ser arrochado do txi ao copo d’gua, t enrolado aqui. O marroquino j aprendeu: v a camisa listrada e j manda um “Gaaaalo”. No conta com a desconfiana do mineiro e sua incrvel sapincia na arte de se fazer de bobo e sumir na poeira. Quer ver um atleticano comendo hambrguer em Marrakesh, escale um local para lhe puxar pelo brao oferecendo tagine ou cuscuz. Se tem de pagar para tirar foto dos encantadores de cobras da Medina, a gente no olha nem a olho nu.
Obrigado Irmandade
Cheguei crente de que estava tudo certo com minha credencial Fifa. No estava – tinha sido recusada, e ao recusado no se remete sequer um e-mail. Temi pelo maior mico j vivido por este macaco velho. Mas imagine se a Irmandade Atleticana deixaria um devoto na mo! O senhor Guilherme Monken, sem nunca ter me visto, lido ou ouvido falar, me cedeu dois ingressos do melhor setor: “Me d seu telefone, acertamos depois do Natal”. Obrigado, amigo, pela confiana. Eh, Galo...
Pra no dizer que no falei da Flor
Tribunais s existem para fazer a justa interpretao da lei. Para analis-la friamente, podem fechar as portas. O torcedor que se conforma com a nova virada de mesa do Flu, sob o argumento de que “se cumpriu a lei”, deve concordar tambm com a cadeia para aquele que “furta” uma batatinha frita na fila do self-service. Ou com cinco anos em regime fechado de um manifestante que levava gua sanitria e pinho sol, pretendendo fazer desses perigosos elementos um coquetel molotov.
Pra no dizer 2
O Vasco tentou reverter a queda no tapeto. Seu patrocinador, vendo seu filme j suficientemente queimado na barbrie de ville, pulou fora. J o do Flu ficou na moita vendo uma das maiores canalhices da histria recente do futebol. Endossou a virada de mesa (ou se omitiu, v l), visto que , na prtica, a gestora do clube. Se age assim em caso de repercusso internacional, imagine na hora em que s um tratamento complexo (e caro) for capaz de salvar sua vida!
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